Se pararmos para olhar o universo à distância, veremos que em seus primeiros momentos ele era bem simples, era um espaço cheio de matéria, algo sem caracteres ou características. Era o que na mitologia Hindu se chama de “Turiya” – palavra que descreve algo como “sem atributos”. Leva tempo para ocorrer uma transformação em reinos mais criativos. A pré-condição para a criatividade é o desequilíbrio, o que os matemáticos atualmente chamam de Caos. Através da vida do universo, à medida em que caíam as temperaturas, surgiam estruturas compostas cada vez mais complexas. A partir do estado de fecundidade criativa, manifestava-se mais criatividade. O universo é uma máquina de fazer arte, um motor para a produção de formas cada vez mais novas de se estar conectado, e da justaposição cada vez mais exótica de elementos díspares.
Cada artista é uma antena para o Outro Transcendental. Enquanto seguirmos com nossa própria história para dentro disso e criarmos confluências únicas de nossa singularidade e sua singularidade, nós criamos coletivamente uma flecha a partir da história, do tempo, talvez até a partir da matéria, a qual vai redimir a ideia de que os humanos são bons. Esta é a promessa da arte, e sua realização nunca esteve tão perto do momento presente.
Harmonia Funcional IV – Condução de Vozes
Nesse post, apresentarei e exemplificarei a condução de vozes. O estudo será feito encima da primeira lei tonal, seguindo a ordem do livro de Koellreutter.
PRIMEIRA LEI TONAL
“TODOS OS ACORDES DA ESTRUTURA HARMÔNICA RELACIONAM-SE COM UMA DAS FUNÇÕES PRINCIPAIS: TÔNICA, SUBDOMINANTE, DOMINANTE (T, S, D)”
Condução de vozes: como já explicado na introdução, é a forma de interligar os acordes das progressões harmônicas por melodias individuais. As regras básicas da condução de vozes, como constam no livro Harmonia Funcional:
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As vozes devem movimentar-se, de preferência, por graus conjuntos. Em caso de estarem obrigadas a movimentar-se por graus disjuntos, procura-se-á o caminho mais curto para a próxima nota do acorde seguinte.
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Quando dois acordes consecutivos, no soprano, contralto ou tenor, tiverem uma ou mais notas em comum, estas, de preferência, deverão ser conservadas na mesma voz, e, se possível, nas partes intermediárias.
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Quando dois acordes consecutivos não tiverem notas em comum, as três vozes superiores – soprano contralto e tenor – deverão movimentar-se, na medida do possível, em movimento contrário ao do baixo.
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Deve evitar-se o movimento das vozes em uníssono, quintas ou oitavas justas consecutivas; pois, estes intervalos, como parecem se fundir num som só (consonâncias perfeitas), prejudicam a independência das vozes, condição principal para a tetrafonia. O movimento direto para a oitava deve ser evitado, quando parte de uma sétima ou nona; o movimento para uníssono quando parte de uma segunda.
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Deve-se evitar o movimento de todas as quatro vozes na mesma direção.
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Deve-se evitar o movimento melódico das vozes e intervalos aumentados e o trítono, em particular, isto é, o movimento melódico do quarto para o sétimo grau, por exemplo, assim como, no baixo, os saltos de sétima e de nona.
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A sensível (VIIº grau) deve movimentar-se, de preferência, em direção à tônica (grau conjunto), principalmente nas vozes externas. Nas vozes internas intermediárias, ela poderá movimentar-se, excepcionalmente, por graus disjuntos para a quinta do acorde perfeito da tônica (J. S. Bach).
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Deve-se evitar, na medida do possível, o cruzamento das vozes.
Agora, a parte prática. Como transformar todas essas regras em uma música?
Vamos harmonizar a três vozes a segunda melodia que foi criada no primeiro post. Já temos os acordes e a linha de soprano, e, primeiramente, não vamos trabalhar com acordes invertidos. Então, também temos a linha de baixo pronta. O único trabalho será criar o tenor.
Com o baixo, ficará:
Agora que teremos outras vozes, as hastes deverão ser o indicador de que voz é qual. Por isso, a voz mais aguda da clave deverá ter as hastes voltadas para cima enquanto a outra para baixo.
Agora, basta preencher o acorde com a voz de tenor, obedecendo as regras de condução e atendendo as exigências da criação melódica.
Normalmente, a linha de tenor e contralto vão ser bem simples de escrever e executar, como visto nesse exemplo. O resultado sonoro pode ser conferido no link abaixo. Já que não achei nenhum site que hospede midi, terá que ser baixado como arquivo. Na próxima lição, vamos expandir a condução para quatro vozes.