Se pararmos para olhar o universo à distância, veremos que em seus primeiros momentos ele era bem simples, era um espaço cheio de matéria, algo sem caracteres ou características. Era o que na mitologia Hindu se chama de “Turiya” – palavra que descreve algo como “sem atributos”. Leva tempo para ocorrer uma transformação em reinos mais criativos. A pré-condição para a criatividade é o desequilíbrio, o que os matemáticos atualmente chamam de Caos. Através da vida do universo, à medida em que caíam as temperaturas, surgiam estruturas compostas cada vez mais complexas. A partir do estado de fecundidade criativa, manifestava-se mais criatividade. O universo é uma máquina de fazer arte, um motor para a produção de formas cada vez mais novas de se estar conectado, e da justaposição cada vez mais exótica de elementos díspares.
Cada artista é uma antena para o Outro Transcendental. Enquanto seguirmos com nossa própria história para dentro disso e criarmos confluências únicas de nossa singularidade e sua singularidade, nós criamos coletivamente uma flecha a partir da história, do tempo, talvez até a partir da matéria, a qual vai redimir a ideia de que os humanos são bons. Esta é a promessa da arte, e sua realização nunca esteve tão perto do momento presente.
Improvisação - Take Five (Dave Brubeck)
Esta seção, "Improvisação", é destinada aos músicos que desejam conseguir criar música espontaneamente, empregando essencialmente a linguagem do jazz. Para que isso seja possível, serão analisados tópicos como harmonia, forma, escalas, ritmo e estratégias tradicionais de improviso.
Nesses posts de estudo e improviso, aprenderemos a forma, harmonia e escalas de cada tema com um intuito de aprendizagem progressiva abordando aspectos importantes da linguagem jazzística em cada um.
Trabalharemos hoje com outro tema consagrado para nosso estudo da improvisação: Take Five, onde Dave Brubeck foge do padrão rítmico convencional do jazz no disco Time Out de 1959. Nosso enfoque nesse tema é dominar o improviso em compassos fora do convencional quatro por quatro.
Forma
A primeira coisa que deve ser pensada para a aprendizagem de um novo standard é a forma em que está disposto o tema. É importante internalizar os padrões das mudanças harmônicas para a improvisação, tanto no jazz quanto em qualquer outra linguagem.
Em Take Five, temos um tema de 32 compassos, dividido em A A B A. É o mesmo esquema de So What, mas cada segmento harmônico terá oito compassos cinco por quatro, que pode ser dividido como 3+2 ou 2+3 na hora de improvisar frases, mas está em 3+2 no ritmo harmônico. Pelo tempero rítmico diferenciado desse tema, é bem conveniente para o improviso do baterista, que poderá aproveitar para solar em mais chorus, mostrando seu virtuosismo e o domínio que tem de seu instrumento.
Harmonia
Aproveitaremos para ampliar um pouco nosso acervo de acordes com esse tema. Para um acompanhamento rico, é importante conseguirmos mais de uma possibilidade de variação para cada apresentação dos acordes, evitando a monotonia e melhor preenchendo para a instigar mais envolvimento e criatividade no solista!
Em A, lidamos com Ebm7 (três tempos) e Bbm7 (dois tempos).
Perceba que a construção dos shapes são iguais em alguns casos, assim seremos capazes de usar o mesmo shape para acordes menores com sétima por todo o braço pensando a princípio em onde está a fundamental na sexta ou quinta cordas. Para o improviso melódico, também é importante estarmos bem versados nos shapes dos acordes para que possamos nos apoiar melhor nas notas constituintes do acorde para a resolução das frases.
Para parte B:
Cb7+ (ou enarmonicamente B7+) (três tempos), Ab6 (dois tempos)
Bbm7 (três tempos), Ebm7 (dois tempos)
Abm7 (três tempos), Dbm7 (dois tempos)
repare que são os mesmos shapes acima, mas um tom abaixo
Gb7+ (cinco tempos)
também um tom abaixo do anterior
Escalas
Usaremos o modo Dórico no decorrer do tema, que é como uma escala menor com a sexta maior. Uma boa forma de internalizar a construção desse modo é pensando em uma escala de Dó sendo tocada a partir da nota Ré. É como se, em um piano, tocássemos só notas brancas (sem acidentes) com nosso centro revolvendo em torno de Ré.
Um caminho é usar a escala de cada um dos acordes em cada momento em que eles se apresentam, como fizemos em So What. Outro será improvisar sempre em Eb dórico, se ainda for difícil pensar em cada um deles e ainda conciliar à mudanças de métrica. A escala é a mesma usada anteriormente:
Agora estamos preparados para brincar encima desse tema. Coloque o backing track e inicie seus estudos! Caso ainda seja difícil fazê-lo, para saber melhor como aplicar as instruções desse post, leia a série de teoria musical.